Parque Augusta fica na região central da capital e conciliará projeto verde com artefatos arqueológicos
Após anos de sucessivos atrasos, a Prefeitura de São Paulo finalmente deve entregar o parque Augusta no próximo mês de julho. Com isso, terá fim uma novela que se arrasta há 50 anos na cidade.
Entrega do parque Augusta
A história do parque Augusta toma o quarteirão entre as ruas Augusta, Caio Prado e Marques de Paranaguá, na região central da capital paulista. A área, que compreende 23 mil m², terá agora um bosque preservado, espaços para atividades físicas, uma arquibancada para apresentações e cachorródromo.
Além disso, terá atrativos arqueológicos, com a restauração do portal e da casa que existia no local. Segundo a prefeitura e conselheiros, a preocupação com o patrimônio é um dos diferenciais do novo parque da cidade.
Isso porque nas escavações e construção do parque Augusta foi encontrado 2.126 materiais arqueológicos. Entre os quais: louça, vidros, cerâmica e metais.
A prefeitura diz que esses materiais devem ser de um período nos séculos 19 e 20, já que ao redor do espaço há dois sítios arqueológicos dessa época.
Função social do parque Augusta
Por outro lado, Ana Claudia Banin, socióloga e membro do conselho gestor do parque, afirma:
“O parque terá uma função social importante além do que um parque público já oferece. Vai ter uma função arqueológica, é o primeiro parque arqueológico urbano da cidade. Uma investigação de memória, de resgate, que servirá a um propósito educativo, com exposição do que foi resgatado.”
História do parque Augusta
Em contrapartida, os registros de ocupação da região do parque datam de 1902. Nesta época, foi construído o palacete Uchoa, sobrenome de um casal da aristocracia paulista, Flávio de Mendonça Uchoa e Evangelina de Prado Uchoa, proprietários de terra em Ribeirão Preto. O terreno havia sido doado ao casal por dona Veridiana de Prado, dona da fazenda que ocupava toda a região.
O arquiteto francês Victor Dubugras foi o responsável pela construção do palacete. Ele foi um dos precursores da arquitetura moderna no Brasil, e que fazia sucesso entre a elite daquele tempo.
Entretanto, em 1906, o palacete foi vendido para a congregação de Nossa Senhora das Cônegas de Santo Agostinho, que ampliou o prédio e fundou ali o Colégio Des Oiseaux.
Filhas da elite paulista
A escola operava como um internato para filhas da elite paulista, funcionando até 1969. Mas no ano seguinte, a prefeitura decretou que o espaço seria de utilidade pública. Sendo assim, aconteceu a construção de um jardim no local. E foi justamente aí que iniciou a disputa pelo uso do terreno.
Isso porque os novos proprietários queriam construir um hotel com 1.400 apartamentos no lugar, e conseguiram reverter o decreto de utilidade pública. Porém, sem autorização, o palacete foi demolido no ano seguinte.
Maior complexo hoteleiro do continente
No fim da década, outra construtora embarcou na ideia e prometeu o maior complexo hoteleiro do continente, mas o projeto não foi adiante.
Por outro lado, a disputa não encerrou por aí. Nos anos 2000 houve a tentativa de construir no local de um hipermercado a torres comerciais, sempre sem sucesso. Em 2008, Gilberto Kassab (2006-2012) decreta de novo utilidade pública.
Nos anos 2010, o lugar foi comprado pelas construtoras Setin e Cyrela, ao mesmo tempo em que crescia entre os moradores da região uma mobilização pela criação do parque Augusta. A população da região chegou a ocupar o terreno e promover festivais artísticos.
Por outro lado, a gestão Fernando Haddad (2013-2016) chegou a propor uma solução híbrida e conciliar a abertura do local à população, e manter o parque em 40% do terreno, com a construção dos prédios comerciais, novamente sem sucesso.
Acordo com as construtoras
Opinião diferente tinha seu sucessor, João Doria (2017-2018), que chegou a dizer que a prefeitura não gastaria dinheiro público nisso. Em vez disso, ele fez um acordo com as construtoras em troca de um terreno público na marginal Pinheiros. Além disso, chegou a prometer que o parque ficaria pronto em 2018. Mas também não conseguiu concretizar a ideia.
Em 2018, a prefeitura conseguiu a escritura do lugar com prefeito Bruno Covas (PSDB). Este deu em troca o direito das construtoras erguerem prédios em outras regiões da cidade. Na ocasião, ele prometeu que o parque abriria em 2020.
Obras em 2019
Contudo, em 2019, a gestão Bruno Covas afirma que começou a fazer obras. Porém, precisou paralisar o processo no ano seguinte, por determinação do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), dado o potencial arqueológico da área.
Por fim, a gestão municipal também disse que por determinação do Conpresp (conselho municipal do patrimônio) precisou elaborar estudos para preservar o muro do parque e que a pandemia dificultou a continuidade dos trabalhos.
*Foto: Divulgação