Procura por testamentos de janeiro a maio deste ano resultou em 224 documentos deste tipo registrados nos cartórios
Diante da pandemia de Covid-19, que se agravou novamente no começo deste ano, cresceu a procura por testamentos nas cidades do Grande ABC. Prova disso é que 224 moradores procuraram cartórios da região para elaborar testamentos entre janeiro e maio de 2021.
Procura por testamentos no Grande ABC
O número da procura por testamentos é 11,4% maior do que o do mesmo período do ano anterior, quando 201 pessoas formalizaram suas partilhas. Os dados são do Colégio Notarial do Brasil a pedido do Diário do Grande ABC. No Brasil, o aumento foi ainda mais expressivo, de 40%, passando de 9.865 atos realizados em 2020 para 13.924 em 2021.
Exemplos
Entre os exemplos de moradores do Grande ABC que optaram por antecipar a partilha dos bens foi a comunicadora Agnes Franco, 42 anos. Ela viveu em Santo André grande parte da vida. Porém, se mudou para Tabatinga, no interior, na intenção de fugir do estresse gerado pela pandemia. Agnes tem um filho de 18 anos, e passou pelo que chamou de “momento mais difícil da sua vida até o momento” ao perder a mãe e a tia para a Covid num intervalo de 26 horas.
Além disso, a situação ficou mais dramática quando a partilha dos bens de sua mãe e de sua tia acabou por gerar atrito entre os familiares.
“Essa situação me deixou em alerta e eu tomei duas medidas. A primeira é o testamento e a segunda foi deixar as coisas para o meu filho, que é meu herdeiro único. Mas, apesar de ele ser maior, não acredito que esteja pronto para administrar essa situação e coloquei uma pessoa como tutora dele.”
Levantamento
De acordo com o levantamento feito pelo Colégio Notorial do Brasil, São Bernardo do Campo foi a cidade que contabilizou o maior número de testamentos este ano. Só de janeiro a julho, foram 71 documentos elaborados nos cartórios. Em Santo André, na mesma época, foram 69 documentos dividindo a herança.
Por outro lado, a empresária Edna Pereira, 53 anos, pensou em elaborar testamento para deixar tudo preparado caso fosse acometida pela Covid-19 e perdesse a batalha contra a doença.
No entanto, a formalização da documentação esbarrou na falta de coragem. Sendo assim, Edna montou grupo de amigas mais próximas, e que detêm seus dados mais importantes caso o pior aconteça em meio à crise sanitária.
“Na primeira semana em que foi decretada a pandemia imediatamente pensei em fazer um grupo, pois ninguém sabia se ia sobreviver ou não. Juntei quatro amigas, cada uma com viés de personalidade. Deixei informações sobre aplicações e de contador.”
Adoecimento mental
Em contrapartida, a psicóloga Ana Paula Casaggioni revela que a pandemia gerou um aumento no adoecimento mental como um todo. Ela afirma que grande parte do estresse e da agonia vivida pelas pessoas é a ameaça um inimigo invisível e mortal
“Não é fácil manter a saúde mental enquanto pessoas estão morrendo devido a Covid. Isso gera estresse e incerteza.”
Preservar a vontade do testador
A vontade do testador em relação ao seu patrimônio, o testamento tem se tornado instrumento eficiente para realização de planejamento efetivo. Com isso, pode-se evitar desavenças entre os herdeiros. Além disso, o documento pode beneficiar terceiros não incluídos entre os herdeiros necessários. E assim assegurar mais garantias no futuro ao cônjuge ou companheiro e até mesmo reconhecer um filho.
Segundo a presidente do Colégio Notarial do Brasil, Giselle Oliveira de Barros:
“Nunca falamos tanto sobre a morte como nos últimos dois anos e acredito que isso tenha feito com que as pessoas passassem a pensar sobre o tema, que antes era um tabu.”
Por fim, ela completou:
“Poder, em momento ainda lúcido, planejar de forma adequada a destinação do patrimônio é uma segurança não só para o testador, como também para a família.”
*Foto: Divulgação